terça-feira, 3 de novembro de 2009

O melhor amigo

Ele não era dos mais corajosos. Tinha medo de altura, de fogos, de jornal.. Quando pequeno adorava arrumar confusão com os maiores na rua; mas se ameaçado, corria. Na verdade nem gostava muito de sair, preferia ficar em casa, confortável, com sombra e água fresca. Era um garoto esperto.

Ele não precisava ser valente. Ele era todo o resto. Tudo o que alguém pode querer de um amigo.

Ele conhecia todos os meus amigos, todos os ex-namorados, todas as minhas fases, todos os meus segredos. Ele aturou meu mau-humor, minha adolescência, minhas maluquices, minhas danças forçadas (sim, ele dançava).

Ele gostava que coçasse atrás da orelha e de carinho na barriga; ele não comia qualquer comida, era exigente; desde pequeno só gostou de um boneco, um baby da família dinossauro (que aliás durou bastante). Ele era encantador.

No primeiro revéillon que passou em casa, passei com ele. Só eu e ele. Todos na rua vendo os fogos (lembra? ele tinha medo) e eu dizendo que estava tudo bem, que estávamos juntos. Virei aquele ano sem ver nada, nem ninguém, mas feliz. De alguma forma eu sabia que dali em diante ele faria muito mais por mim do que eu jamais poderia fazer por ele.

Para uma menina de nove anos, filha única, tímida e às vezes sensível demais, aquele amigo seria muito mais que companhia, seria uma fonte infinita de carinho e de sorrisos. Ele estava sempre feliz quando eu chegava e ficava triste quando eu saía. Os olhos diziam uma coisa e outra. Ele me ouvia e me acompanhava, me consolou todas as vezes que chorei. Meu amigo só faltava falar.

Ele tinha 16 anos. Muito, para muita gente. Para mim, não o bastante.

Meu amigo não está mais aqui.

E quem vai me consolar?

Mas sei que leva com ele a nossa história, assim como guardo para mim. E sei que não vou mais poder dizer que o amo todos os dias antes de trabalhar, mas vou dizer todas as vezes que lembrar dele.

Tofinho, eu te amo, preto!




sábado, 10 de outubro de 2009

Cérebro mestre... eu??

Sempre suspeito desse tipo de coisa, mas, num momento tédio total de fim de expediente, fiz um teste de personalidade. O resultado foi surpreendente. Não por ter descoberto qualquer novidade, ao contrário, por ter reconhecido ali comportamentos e características tão familiares para mim.

Fui definida como INTJ - cérebro mestre. O nome impressiona.. meu ego ficou satisfeito. Mas, não se engane, isso não significa tanta coisa. Na minha opinião, mestres são aqueles que não se importam com opinião alheia, que fazem amigos em qualquer situação, que falam muito bem em público e são felizes, já que não param para pensar em nada que exceda a complexidade do que desejam fazer no momento. Eu não sou assim. Sou, definitivamente, uma INTJ.

Separei algumas características:

Cérebros-mestre são raros, compreendendo não mais do que 1% da população. Apesar de serem líderes altamente capazes, INTJs não têm de forma alguma vontade de comandar, preferindo ficar num 2º plano até que outros demonstrem incapacidades de liderança. Uma vez no comando, entretanto, são totalmente pragmáticos, enxergando a realidade como nada mais do que um tabuleiro de xadrez a ser utilizado na elaboração e no aperfeiçoamento de suas estratégias.

Cérebros-mestre tendem a ser muito mais auto-confiantes do que outros Racionais, tendo geralmente uma vontade bem desenvolvida. Decisões vêm fácil a eles; de fato, dificilmente conseguem descansar até que tenham as coisas resolvidas e decididas.

Desejam harmonia e ordem em suas casas e em seus casamentos, mas não a custo de ter um parceiro submisso. O mais independente de todos os Tipos, o INTJ quer que seu companheiro/a além de independente, seja capaz de confrontar a por vezes formidável força de sua personalidade.

O cortejo é particularmente um problema para os Cérebros-mestre, já que consideram a escolha de um bom parceiro como um processo racional, uma questão de encontrar alguém que se correlacione fortemente com a sua lista de exigências tanto físicas quanto intelectuais. Eles sabem rapidamente -- geralmente no primeiro ou no segundo encontro -- se a relação terá futuro ou não, e não perderão tempo em relacionamentos que pareçam pouco promissores.

Em geral, Cérebros-mestres confiam em suas cabeças e não em seus corações para fazer essas escolhas, e portanto às vezes parecerão frios e calculistas. Mesmo em situações sociais mais casuais eles podem parecer frios e podem negligenciar a execução de pequenos rituais concebidos para deixar as outras pessoas sentido-se confortáveis em suas presenças.

Por exemplo, INTJs podem considerar jogar conversa fora um desperdício de tempo, e por conta disso as pessoas sentem um senso de pressa neles que nem sempre é intencional. Mas não se engane: as emoções de um INTJ são difíceis de ler, e é provável que nem um homem nem uma mulher deste Tipo seja particularmente saída ou emocionalmente expressiva. Eles têm uma forte necessidade de privacidade e não gostam de contato físico exceto com umas poucas pessoas escolhidas.

Apesar de tudo isso, Cérebros-mestre são profundamente emocionais, até mesmo românticos, e uma vez decididos de que uma pessoa que é digna deles, eles se tornam companheiros apaixonados e leais, quase hipersensíveis aos sinais de rejeição de seu(ua) amado(a).

INTJs Famosos - Harrison Ford, Saddam Hussein, John Malkovich, Henry Miller, Jean Paul Sartre, Richard Nixon, Harry Houdini, Edgar Degas, J.D. Salinger, Jean Piaget, Ross Perot, John Sununu, Bruce Sundlun, Edward DiPrete, Sigmund Freud, Ludwig Wittgenstein, Raymond Chandler, Bela Bartok, Edgar Allan Poe, Howard Hughes...

sábado, 12 de setembro de 2009

Eu vou saber (conto)

Ela contrariava expectativas e enfurecia observadores. Ela esfriava o sol e desencantava as fadas. Era o desespero inquieto, preso, fundo, raramente ameaçado. Ela brincava consciente no abismo da insanidade; desafiando o preâmbulo de sua própria história, que até então não fora mais que planos esquecidos, reduzidos pouco a pouco a um nível insignificante, quase cômico.

Impaciente, ofendida, ofensiva, nada a fazia luzir senão suas próprias ideias. As mesmas que a torturavam homeopaticamente, sem pudor, nem piedade. Pensar era difícil; não pensar era impossível. E saber tornava-se uma odisseia tanto horrenda quanto viciante. Tal como uma droga, destruía corpo e alma; atacava esperanças, desfazia crenças, dilacerava sonhos...

Ela não conhecia os monstros que enfrentaria quando deu o primeiro passo; e não houve escolha. Embora não tivesse feito diferente caso houvesse. Porque não temia a dor; sugava tudo o que lhe fosse aproveitável. Não há como expurgar ou paralisar esse processo, nem as conclusões geradas por ele. O caminho percorrido se fecha e a única opção é continuar em frente, lá para onde a luz é mais forte, lá para onde os obstáculos são mais nítidos.

Quem foi que ditou que é preciso ser alegre para ser feliz? Ela não era alegre, ela não era triste, ela não era poetisa. Ela era só realista.

Mas numa noite daquelas, das quais não se espera nada, igual a todas as outras tediosamente miseráveis, alguém a fez - por raros e deliciosos segundos - parar de pensar. A voz baixa, o olhar enigmático, a retórica firme que denunciava uma alma encantadoramente complexa. Era Ele.

Extasiada, Ela acompanhou e dissecou cada passo, cada gesto, cada teoria impactante que abundava naquela mente jovem e já tão tristemente iluminada. Passado o vazio anestésico que a tomou num primeiro momento, as ideias retornaram ainda mais velozes e impiedosas.

Seria Ele uma versão masculina de sua odiosa existência? Ela não tardou a descobrir que não, nem tanto. Categoricamente orgulhoso e, ainda assim, um tanto (muito bem disfarçado) inseguro; discreto, mas possuidor de charme e carisma que não o permitiam passar despercebido; Ele disparava respostas e argumentos carregados de um sarcasmo polido, que estranhamente não era encarado como deboche. Não pelos outros.

Ela era tudo isso, mas nunca ultrapassara a linha tênue que separa orgulho e arrogância. Ele era veladamente arrogante. Mas não houve julgamento, Ela sabia bem da dificuldade de ter que lidar - pacientemente - com pessoas que não questionam, simplesmente acreditam. E, principalmente, da dificuldade de lidar com o próprio ego nessas situações.

Em poucas horas, ouvindo seu discurso, percebendo seus trejeitos, Ela já sabia quem Ele era. E talvez ninguém mais soubesse. Sentiu uma imensa e perturbadora vontade de abordá-lo, de definí-lo, de confrontá-lo. Mas, ao mesmo tempo, surgiu um medo mais forte que tudo isso, mais forte que qualquer segurança, convicção ou desejo. Aquela covardia não combinava com quem tanto já tinha sofrido, quem tanto já tinha alcançado.

Pela primeira vez alguém avassaladoramente a intimidava. Sempre teve resposta para tudo, para o mais absurdo, mas se com Ele perdesse a eloquência tão admirada por quem a rodeava, perderia também sua atenção e a possibilidade de mostrar tamanha similaridade. Diante desse conflito, ali parada, Ela se perguntava incrédula da resposta que viria em seguida: por que tanta preocupação com a opinião dele? Por que esvaíam-se as forças diante da possibilidade de ser subestimada por Ele?

Era óbvio; óbvio e incompreensível demais. Uma imensa e irremediável paixão a tomava. O amor à primeira vista, que a vida inteira foi ridicularizado e inacreditado por Ela, estava ali acelerando o coração, fazendo suar as mãos, tremer as pernas, embaralhar a cabeça. Ela de repente estava tão humana. E Ele, por isso, tão distante.

O nó na garganta apertava ferindo seu orgulho. E isto Ela não permitiria. Ao fim do discurso, quando todos íam atraídos como ímãs em direção a Ele, tomou a direção contrária. Cabeça baixa, respiração alterada, sabia que jamais se perdoaria por tamanha covardia. Antes que chegasse à porta, entretanto, parou. Dedos frios tocaram levemente sua mão, que num rápido reflexo se fechou impedindo maior contato. Ela nem precisava ver para saber quem era.

Virou-se de cabeça erguida, encenando sua própria personagem, mas não disse nada. Ele sim.

-- Eu conheço você. Não conheço?
-- Não posso saber quem você conhece. Mas não creio que me conheça, já que eu não o conheço -- Ela disparou, provocando risinhos nos fãs que aguardavam.

Olhos nos olhos sem hesitar. Travaram um duelo silencioso por alguns segundos tentando desvendar o que estava acontecendo ali. Mas não, nem as almas privilegiadas e massacradas por carregar as verdades do mundo explicariam aquilo.

-- Tenho uma coisa para você. Vem comigo? -- Ele estendeu a mão e a puxou sem esperar resposta.

Ela novamente parou de pensar, mas não de sentir. Enquanto andava pelos corredores, guiada por Ele, guardava seu cheiro, a textura e temperatura de cada célula da mão que tocava a sua, o olhar de lado que de tempos em tempos conferia suas feições, o meio sorriso que saía em resposta ao que Ele via.

Chegando ao destino Ele puxou duas cadeiras e pediu que Ela sentasse. Em seguida pegou um violão.

-- O que eu tenho para você é uma música.

Começou a tocar - e como tocava maravilhosamente! - a canção mais doce que Ela ouvira. Não cantou, era apenas o violão. E bastava. Ele havia percebido o poder da arte para manter a mente sã; Ela o admirou por isso.

-- O que achou? -- Perguntou, despertando-a.
-- Cada nota pareceu preencher os vazios de uma vida inteira de angústias -- Ela disse. -- Mas por que? Por que eu, por que me trouxe aqui? -- Emendou.

Ele olhou fundo nos olhos dela, correu a mão por seus cabelos e sorriu.

-- Eu não vou explicar. Pela primeira vez, nem saberia. Mas sei que não vai precisar mais que o nome dessa música para que entenda.

E ela ouviu, finalmente feliz, boba e realizada, como qualquer pessoa comum e apaixonada, que o nome daquela música composta havia anos por Ele era: "Quando você chegar eu vou saber".



quinta-feira, 3 de setembro de 2009

De volta ao maternal

A Para agradar os preguiçosos, resolvi mudar
Diminuí o texto, para não cansar

E Escreveria sobre a vida, como a vida deve ser
Mas com tão poucos caracteres, não daria pra entender

I Videogame e futebol sei que iam persuadir
Mas são temas tão banais, que eu no meio ia dormir

O Se não tem do que falar, a saída é o amor
Ôh palavra tão gracinha, rima até com isopor

U Mas, pior que escrever pouco, é achar final com "ur"
Acho que vou poupar o "r", e te mandar tomar...

malibu.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pseudobesteirol

"Não pode dar ouvidos a qualquer idiota"
"Ele não é um idiota. É o ganhador do prêmio nacional de melhor livro do ano"
"Então vingue-se da melhor forma. Escreva uma letra de sucesso"
"Francamente, não acho que uma canção POP vá impressioná-lo"
"Ah, claro que não. Música POP é para imbecis. Eu esqueci..."
"Não quis ofender"
"...para retardados mentais ou drogados. Quer saber o que eu diria para você e o Sr. escritor? Podem pegar todos os romances do mundo que nenhum dará prazer maior e mais instantâneo do que ouvir: 'I got sunshine, on a cloudy day. When it's cold outside, I got the month of May'. Isso é poesia. Esses são os verdadeiros poetas"


O motivo para transcrever o diálogo entre Drew Barrymore e Hugh Grant no filme Letra e Música é simples: concordo com ele. Simples, aliás, é a palavra-chave deste post. Não digo que histórias complexas não tenham seu encanto e importância indiscutíveis. Mas duvido que você recorra a Freud quando está chateado ou decepcionado por algum problema; ou mesmo quando bastariam umas risadas para deixar o dia mais leve.

Eu recorro ao besteirol - que aqui só classifico assim para que o gênero seja facilmente reconhecido - e não me sinto menos inteligente por isso. São os filmes e músicas considerados "água com açúcar" que amenizam o sofrimento; que provocam risadas num momento que combinaria mais com lágrimas; que ajudam a enxergar que as mazelas talvez não sejam tão assustadoras assim; e que trazem esperança na busca por seu próprio final feliz.

Ok, não acredito nesse lance de final feliz. Mas acredito nas voltas que a vida dá (clichê em homenagem ao simples) e nas grandes surpresas que surgem delas. E quer mais incentivo para reviravoltas que histórias - e aí incluo livros também - que façam sorrir, que façam sonhar?

O fato é que tem sempre aquele pseudo-intelectual que leva tudo a sério demais para admitir, ou mesmo conhecer, o fabuloso "água com açúcar". Essa figura limitada - e geralmente bem insegura - torce o nariz para qualquer coisa que não seja considerada incrivelmente cult. Ôh gente mala! É o medo de ser mal visto; de parecer menos interessante; e de ser julgado, que o faz - veja só! - julgar. Porque a pessoa que realmente não gosta se contenta em dizer isso; não emenda em caras feias e críticas sem fim (nem fundamento).

Ah, tem também o quesito 'antiguidade'. Ninguém tem o direito de gostar mais de um artista com cinco anos de carreira do que de um que morreu há décadas. Blasfêmia. É obrigação admirar uma lista de artistas do início do século passado se não quiser carregar o rótulo de alienado. Conhecer é sempre válido, gostar e tomar como ídolo é opção. Aí é que entra a tolerância.

Não pense que exagero, já presenciei discussões fervorosas nessa linha. Fora incontáveis comentários preconceituosos, sarcásticos e carregados de ignorância voluntária. Tudo tão forçado, tão mascarado. Um monte de gente que estuda para ser cult, sem sequer questionar se realmente gosta daquilo. Todos os indivíduos têm livre-arbítrio, podem ser o que bem entenderem, inclusive tudo ao mesmo tempo. Por que limitar?



"If it makes you happy, it can´t be that bad!"


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Best thing (bêbado fala inglês)


Como é bom escrever com o grau etílico elevado, não? Tinha que haver lei para isso. Se dirigir, não beba. Mas se beber, escreva! Já liberei os fantasmas em confissões a esmo durante a noite. Sorte de quem lê agora. Só sobraram os prazeres e desprazeres poéticos para compartilhar.


E poesia de bêbado é o que há de mais sincero. Saem boas pérolas dali. Daqui. E, apesar da pressão no crânio, das pálpebras obesas, dos lábios dormentes, e da insanidade temporária, que pessoas interessantes ficamos depois de uns copos! Tão articuladas e sem pudores... tão engraçadinhas.


Fora que ninguém eleva o grau etílico sozinho. Tem sempre um amigo tão ruim quanto para acompanhar as bobeiras e destemperos. Mas tem que ser amigão mesmo, baú sem chave, ou o dia seguinte pode virar literalmente uma dor de cabeça.


Afinal, do que é que eu estou falando? Estou falando que amizade é a melhor coisa da vida. E com acompanhamento então... é uma festa. Feliz demais por ter os amigos que tenho. Uns tão diferentes dos outros, mas todos perfeitamente compatíveis comigo. Tem gente boa para toda ocasião. Oh sorte! Tudo bem, bêbado ama todo mundo. Mas dá pena de quem se leva muito a sério para se doar a esses momentos.


Tenhamos histórias para contar...


Obs.: tudo com moderação. Esquecer toda e qualquer coisa no dia seguinte também não é legal.



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Brincadeirinha sem fim


Como todo brasileiro que se interesse minimamente por política, pelos rumos que o país está tomando, fico impressionadíssima com a falta de postura no Senado (não só lá, é claro. Mas já que é a bola da vez...). E nem estou falando de bate-boca, dedo na cara, ou xingamentos infantis – sempre precedidos pelo respeitoso ‘Vossa Excelência’. Estou falando do tempo que se perde com discussões improfícuas.


Parece que todos eles se divertem, se sentem mais dignos (e talvez mais úteis), disputando a última palavra, o discurso mais eloquente, a cara mais assustadora. O irritante é que essa testosterona toda só aparece quando se trata de briguinhas ‘lado A X lado B’. É esse o tipo de pauta que os faz pular felizes da cama na SEGUNDA-FEIRA (dia normalmente morto no Senado) e ir discursar – guerrear - no plenário.


E fica nítido os que estão ali essencialmente para aparecer; treinar uma retórica ultrapassada; tentando, aos trancos e barrancos, ressuscitar no cenário político. Aliás, palco político soaria melhor que cenário neste caso.


Mas este post não pretende julgar ninguém, porque condenando-se um absolve-se outro, e não vejo lado algum que mereça defesa ali. A cara-de-pau de quem arquiva todas as denúncias sobre a múmia da política atual é tão desprezível quanto a de quem acusa só até certo ponto, porque a partir dali pode sobrar para todo mundo. Isso fica claro nas defesas estilo ‘devo, mas quem não deve?’, que raras vezes são desafiadas.


As questões: como é que ficam as outras pautas, quando só se fala em múmia? Então a principal utilidade do Senado é discutir corrupção no Senado? Por que não separar um grupo e investigar de uma vez todas as acusações? Por que arquivar tudo num dia sabendo que vai ter recurso no outro? É uma perda de tempo tão ridícula, um desgaste tão irracional, que não é possível que compense.


Mas não tem fim. Essa brincadeirinha não tem fim. Até, é claro, que seja substituída e esquecida assim que um novo escândalo vier à tona. E neste dia o Senado ficará lotado outra vez; e dedos serão levantados outra vez; e xingamentos proferidos; enquanto outros coronéis, cangaceiros de #$%¨$ e múmias tomam novamente os papéis de protagonistas na nossa história.


Que malas que vocês são, meus caros!



domingo, 9 de agosto de 2009

Poeta (sambinha)

O moço bonito, na beira da estrada

Não sabe o destino, mas quer encontrar

Com violão nas costas, sorriso estampado

Não se preocupa em se preocupar


O moço bonito, na beira do asfalto

Não precisa de carro para levar

Vai a pé, vai com o vento, vai sedento

Do que quer conquistar


Tem alma de poeta, numa luta secreta

Ele quer divertir e emocionar

Ele quer divertir e emocionar


Tem alma de poeta, numa luta secreta

Ele quer divertir e emocionar

quer divertir e emocionar


XXX


O moço tão lindo, tão mirabolante

É só um menino que vive o instante

Que fez da vida o que queria fazer

Um glorioso palco pra se conhecer


Tem alma de poeta, numa luta secreta

Ele quer divertir e emocionar

Ele quer divertir e emocionar


(GREDILHA, Beatriz)


**Resultado de um domingo de ócio total. Me desculpem os compositores decentes!


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ou será que tenho?


O post anterior tem uma ressalva. E hoje fiz questão de escrever sobre ela. Eu não tenho mesmo essa inspiração que dá e passa; e vem de dentro de cada um. Quando, e se, der vontade de escrever, é só ter papel e caneta que alguma coisa vai sair - mesmo que seja uma bela porcaria. O quero dizer é que não preciso ver um pombo para começar um livro sobre a paz.

Por outro lado, não posso negar que existam pessoas que me inspiram. Ou, melhor que isso, despertam uma disposição abissal em mim, que acaba por gerar boas coisas. Não é tão comum, não sou de ter heróis (e geralmente nem dura). Mas quando acontece, é como começar de novo.

Outro dia entrei, por acaso, no blog de um artista – que também é jornalista – e, cara, me fez pensar. Não pelo texto especificamente, mas pelo o que ele fez da vida; que é exatamente o que eu sonhava para a minha quando ainda sonhava ‘romanticamente’ com o futuro.

Não acho que basta querer, nem acredito nessas pessoas que dizem “tive coragem e fui”. Acho que tem muita sorte envolvida também. Mas, fato inegável (e totalmente clichê): não posso ter sorte se não for atrás. E esse cara... nossa! Lê-lo foi como olhar para mim mesma num passado recente.. que agora parece tão distante.

“... uma das coisas que mais gosto em mim é essa força que não sei de onde vem... mas que me faz engolir vivo o temor, as contradições, traumas e cansaços para fazer a coisa acontecer de verdade”, ele disse. Lembrei que também já tive orgulho disso um dia. E que hoje o que tenho é uma coleção de medos bobos que só me permitem trilhar o caminho mais fácil. Consequentemente mais chato.

Não sou frustrada, e estou certa de que nunca serei. Porque tenho memória e já fiz muita coisa legal. Mas sei que estou cada vez mais comum; cada vez mais perdida no todo. E tinha deixado de me importar com isso.

Foi na hora certa que ‘tropecei’ nessa figura da melhor qualidade; que, sem querer, me reapresentou a pessoa que quero ser. Pena tratar-se de alguém tão inacessível, porque sei que seria um amigo daqueles caídos do céu, feitos sob medida. Mas já compensa muito saber que existem pessoas assim, corajosas, talentosas, inteligentes; que despertam o melhor do outro sem sequer saber disso. Só sendo quem são.

domingo, 2 de agosto de 2009

Inspiração, não tenho


Descobri que não rola comigo esse lance de inspiração. ‘Meus momentos’ têm muito mais a ver com preguiça. Na verdade com a rara ausência dela. Tem dias em que acordo filosofando e escrevendo até sobre o latido do cachorro do vizinho (hoje, por exemplo, acho que ele estava num momento introspectivo. Deve ser o frio). Tem outros, no entanto, em que só pensar em pegar uma caneta, dói na alma.

Então não é inspiração, é disposição. É a disposição dos escritores e roteiristas que eu invejo um tanto. É a aplicação, a disciplina e, acima de tudo, a volúpia de realizar. Tá me faltando isso. Posso fazer várias matérias por dia – e de fato faço -, mas já está tão automático... não queria que ficasse assim. Prevejo o dia em que vou conseguir escrever sem ler. Show de horror!

Uuh, espero que nenhum chefe em potencial esteja lendo isso. Mas se estiver, com certeza é um jornalista também, e vai saber do que estou falando. Se tem uma coisa que cura qualquer preguiça é o estímulo da novidade, a expectativa do novo. Quando isso falta, amigo, é hora de parar e rever seu caminho. Senão é ladeira abaixo.

Ainda não parei, mas certamente estou repensando. Porque quero muita disposição, quero muito assunto, muitos caracteres. Amo o que faço.. quero fazer melhor!

sábado, 1 de agosto de 2009

Me, myself..

Já disseram mais de uma vez que é preciso manual de instruções para lidar comigo. Será mesmo? Acredito mais na hipótese de que todo mundo tenha muito mais o que fazer além de tentar decifrar a personalidade alheia. O que é uma pena... um desperdício de boas surpresas, que eu não cometo. Mas, para observador ou não, é fato que quando surge um interesse por alguém (seja amigo, namorado ou o que for) não existe fase mais maravilhosa que a da descoberta. É claro que pode vir a ser uma grande frustração também – e para mim quase sempre é -, mas instiga a olhar mais para o outro; e menos para o próprio umbigo. E, cara, descobrir o outro é uma delícia. Eu adoro. Principalmente quando ele se mostra um dos seus.

Pensando nisso, me dei conta de que talvez meus amigos não me conheçam tão bem; que talvez meus ‘amores’ do passado nunca tenham me conhecido; e que provavelmente nem meus pais sabem com certeza quem eu sou. Não porque gosto que seja assim, mas porque me acostumei a ser assim. Ouvir muito mais do que falar, sempre; criar personagens para manter algo aqui, ali; para me equilibrar entre grupos com absolutamente nada em comum. Então tudo isso pode parecer grande esforço, mas na verdade é um esforço muito menor do que seria explicar tanta contradição.

Sou extremamente tímida (e já fui muito mais), mas se me pedirem para subir num palco e cantar, eu canto. Tem gente que vai ler isso e pensar: “Tímida? Não sei onde!”; e outros que dirão: “Não a imagino num palco”. Este é só o exemplo mais óbvio. Então, de uma vez por todas, vou simplificar:

Não gosto de música alta (salvo esporadicamente em boates); amo cachorro; amo escrever, mas sou preguiçosa (meu maior sonho é que inventem um gravador de pensamentos); adoro dormir com o sol nascendo, funciono muito melhor de madrugada; vejo vários filmes seguidos; gosto de cheiro de verão, mas prefiro inverno; odeio acordar cedo; amo sorvete de creme; tiro férias dos amigos (eles entendem); meu quarto é meu templo (também conhecido como masmorra); amo, e às vezes prefiro, ficar sozinha; adoro viajar; queria saber muito mais do que sei; gosto de Fórmula 1, mas não sei dirigir; gosto de caras que gostam de futebol, mas não entendo nada sobre o assunto (dos que gostam, não de jogadores. Odeio jogadores).

Se for para ouvir, que seja MPB, rockzinho ou até um forró; se for para ver, que seja alguma coisa que acrescente (filme de pancadaria e programa da Luciana Gimenez, to fora!); odeio gente que grita/assobia/cospe ou cutuca quando fala; amo chocolate; sou teimosa, mas sei dar o braço a torcer (sério); gosto de beber, assumo (não pela bebida, pelo efeito); dizem que sou mal-humorada.. não sei; não tenho, definitivamente, “paciência para fazer a social”; odeio: pseudointelectuais, gente meiga, gente que faz drama pra tudo e futilidade; adoro cheiro de livro novo, embora ache os antigos um charme; não sei falar ao telefone, às vezes treino antes; quero e não quero namorar; acho que não vou casar, não sei conviver; amo os prédios antigos do Centro; tenho T.O.C., mas de leve; não sei perdoar (estou trabalhando isso); meu sarcasmo me diverte, fato; adoro a lua, adoro o mar; amo meus amigos, família, todo mundo.. embora economize nos elogios.

Muito prazer,
Beatriz Gredilha.

Obs.: é claro que o mais complexo do todo não está aí, nem caberia. Espero que um dia alguém seja capaz de dizer para mim, e não o contrário. Porque, seja como for, essa pessoa será especial.

Conselhos...

Se for fazer merda, faça direito!
Se for meter os pés pelas mãos, antes dê uma olhada em volta,
E certifique-se de que, se cair, não vá levar ninguém junto.
Se já passou da idade de fazer merda, não faça!
Mas se a fraqueza vencer e vc decidir fazer,
então assuma o risco de parecer ridículo, pq será inevitável.
Se sua falta de postura for percebida, opte pela honestidade.
Sempre faz bem..
Mas se vc for realmente bom em enganar, cuidado para q não vire costume;
Ou em pouco tempo nem vc mesmo saberá quem vc é.
Por fim, antes de começar ou continuar a fazer merda,
Pese prós e contras; pese coragem e covardia; pese lealdade e sacanagem.
Pq a vida é uma só, e vc não vai querer estragar isso por pouca coisa!
Confiança não se reconquista.... Não seja ridículo!

(GREDILHA, Bia)

Socorro!!!!!

Ser “esquentadinho”, “impaciente”, “intolerante”, não é mais característica de poucos. Numa época em que cada um corre atrás do seu, sem ter tempo para nada, nem mesmo para respeitar o outro, é difícil controlar reações.

Quem anda pelo Centro do Rio sabe bem do que eu estou falando. É gente correndo, gente entregando papel, gente sem rumo, gente vendendo coisa, gente pedindo dinheiro, gente oferecendo dinheiro (empréstimo), gente pensando na morte da bezerra, gente fazendo show. Tem gente de todo tipo e, quase sempre, do tipo completamente sem noção.

Num cenário desse, raros são os santos que conseguem manter a calma. Mas e para chegar até lá? Você acorda cedo, pega ônibus/trem/metrô lotado, atura horas de aperto, em pé, com direito a cotoveladas, puxão de cabelo, mochiladas, odores estranhos, cabelos alheios que pingam, ambulantes berrando, barrigudos assobiando (é sempre um barrigudo), adolescentes de preto ouvindo barulho ensurdecedor, projetos de pastor, projetos de cantor. Tem de tudo na viagem.

O que esse povo não entende é que, sim, eles têm o direito de gostar do que quiserem. Mas, meu Deus, o mundo inteiro precisa participar disso? Outro dia estava no ônibus, já irritadíssima por ter esperado horas, e eis que entra um grupo de delinqüentes potenciais. Gritavam um funk acompanhado de barulho estridente que vinha de um celular. (Nada contra funk. Não em lugares apropriados.) Minha cara de insatisfação não surtiu efeito, a cara de ódio também não. Tentei a cara de “vou pular no teu pescoço e te matar”, mas não teve jeito. Até que uma senhora, muito corajosa, perguntou em tom de brincadeira: meu filho, será que não tem outro repertório aí não? Pensei: eles serão educados e pelo menos o volume dessa porcaria vão baixar. Doce ilusão. O estúpido respondeu: o celular é meu e vou ouvir o que eu quiser.

A senhora? mudou de lugar. Eu? Nutri um sentimento inclassificável por aquele elemento durante toda a viagem. Que ideia é essa de educação, de respeito? Ele pode ouvir a meleca que quiser no raio que o parta. Eu é que não sou obrigada a compartilhar disso.

Mas, enfim, se você costuma passar por situações como essa e chegar perto do descontrole (como eu), agradeça todos os dias ao iluminado inventor do MP3. Se Pedro Bial aconselha a usar filtro solar, eu aconselho a usar... MP3. Sempre. Todos os dias. Vá por mim, é uma questão de sanidade mental.