Tenho verdadeiro fascínio pelo século XIX até início do
século XX. Pelo vestuário, pela arquitetura, pela literatura, pelas tradições,
pelo respeito e a conexão com a família, pelo cuidado minucioso que cada
aspecto da vida merecia naquela época. Não invejo a falta de eletricidade, nem
a submissão das mulheres, nem muito menos a escravidão ou a maneira como os
mais pobres eram, de certa forma, ignorados. Mas invejo, sim, a elegância com
que todas as mazelas eram tratadas.
Ainda enxergo, porém, boas e más semelhanças no comportamento de hoje em relação ao do
início do século passado. As visitas que aparecem sem avisar (como se telefone não existisse), os cumprimentos a desconhecidos nas ruas, os falatórios sobre
quem vai casar, descasou, ou deveria casar.. Ainda vejo preconceito explícito nos mais
velhos, mesmo aqueles que, ironicamente, viram suas famílias tornarem-se uma grande
mistura de raças. Vejo mulheres que não fizeram questão de estudar além da
alfabetização, mulheres que casaram e cumprem essa função com a naturalidade do
certo a fazer.
Sei que a manutenção do comportamento está mais enraizada
nas casas espaçosas, de grandes terrenos, do subúrbio. E, é claro, pelos avós.
Os netos estão mais interessados em criar capital para sair dali. Não porque
não gostem, não que seja justo, mas porque não suportam a distância para o
Centro e a Zona Sul, onde de fato as coisas acontecem, onde os empregos estão. Não
suportam, ainda, o julgamento (mesmo que disfarçado) de amigos que em toda a vida não frequentaram
mais que a orla do Rio de Janeiro. Entendem o subúrbio como um lugar feio,
tedioso, onde todos gritam e brigam todo o tempo. A cidade modernizou, mas "esqueceu" de espalhar polos empresariais para desafogar o Centro.
E por falar em Centro, é bom saber que restaram lá, da magia dos séculos
passados, algumas magníficas construções. Algumas conservadas e outras
tristemente (e literalmente) caindo aos pedaços. Olhar para cima e ver os
casebres ou os prédios, feitos com imensa dedicação, é um deleite; mas olhar para
baixo e ver centenas de pessoas com pressa, correndo, ambulantes berrando,
mendigos ignorados, trânsito caótico, tudo isso é mais que uma tristeza, é um
desrespeito com as coisas lindas que ainda temos ali. Não sou contra a
modernidade, não sou contra o progresso. Sou contra a perda da educação, a perda da elegância, sou contra as várias línguas que o português se
tornou. Sou absolutamente contra tudo que é feito, construído ou falado de qualquer jeito.
Paciência!