quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Paciência!



Tenho verdadeiro fascínio pelo século XIX até início do século XX. Pelo vestuário, pela arquitetura, pela literatura, pelas tradições, pelo respeito e a conexão com a família, pelo cuidado minucioso que cada aspecto da vida merecia naquela época. Não invejo a falta de eletricidade, nem a submissão das mulheres, nem muito menos a escravidão ou a maneira como os mais pobres eram, de certa forma, ignorados. Mas invejo, sim, a elegância com que todas as mazelas eram tratadas.

Ainda enxergo, porém, boas e más semelhanças no comportamento de hoje em relação ao do início do século passado. As visitas que aparecem sem avisar (como se telefone não existisse), os cumprimentos a desconhecidos nas ruas, os falatórios sobre quem vai casar, descasou, ou deveria casar.. Ainda vejo preconceito explícito nos mais velhos, mesmo aqueles que, ironicamente, viram suas famílias tornarem-se uma grande mistura de raças. Vejo mulheres que não fizeram questão de estudar além da alfabetização, mulheres que casaram e cumprem essa função com a naturalidade do certo a fazer.

Sei que a manutenção do comportamento está mais enraizada nas casas espaçosas, de grandes terrenos, do subúrbio. E, é claro, pelos avós. Os netos estão mais interessados em criar capital para sair dali. Não porque não gostem, não que seja justo, mas porque não suportam a distância para o Centro e a Zona Sul, onde de fato as coisas acontecem, onde os empregos estão. Não suportam, ainda, o julgamento (mesmo que disfarçado) de amigos que em toda a vida não frequentaram mais que a orla do Rio de Janeiro. Entendem o subúrbio como um lugar feio, tedioso, onde todos gritam e brigam todo o tempo. A cidade modernizou, mas "esqueceu" de espalhar polos empresariais para desafogar o Centro.

E por falar em Centro, é bom saber que restaram lá, da magia dos séculos passados, algumas magníficas construções. Algumas conservadas e outras tristemente (e literalmente) caindo aos pedaços. Olhar para cima e ver os casebres ou os prédios, feitos com imensa dedicação, é um deleite; mas olhar para baixo e ver centenas de pessoas com pressa, correndo, ambulantes berrando, mendigos ignorados, trânsito caótico, tudo isso é mais que uma tristeza, é um desrespeito com as coisas lindas que ainda temos ali. Não sou contra a modernidade, não sou contra o progresso. Sou contra a perda da educação, a perda da elegância, sou contra as várias línguas que o português se tornou. Sou absolutamente contra tudo que é feito, construído ou falado de qualquer jeito. Paciência!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Easy, girl!!


Não acredita em destino? Meu namorado conheci na faculdade, mas descobri que percorria os corredores da mesma escola de ensino médio, na mesma época que eu, sem que nunca o tivesse notado. Minha melhor amiga conquistou esse título no colégio, no (antigo) ginásio, mas havia dividido a sala do curso de inglês comigo anos antes.

Uma coleguinha do C.A. tornou-se uma das grandes amigas após anos sem vê-la. No primeiro período de faculdade fiz uma entrevista para uma empresa de clipping. Era crua, sem nenhuma experiência. Não passei. Quando terminei o curso, recém-formada, outra vaga surgiu naquele mesmo lugar. Passei. Mas não para o clipping. Meu currículo com estágios já era bom o bastante para assumir o primeiro posto de repórter na agência de notícias que funcionava no mesmo local.


Não sei como o universo trabalha, mas, definitivamente, se é para ser será.. hoje ou amanhã; ou daqui a muitos amanhãs. Ansiedade é o mal do século. É o meu mal. Mas, por acaso, esses acasos passaram hoje pela minha cabeça e me senti mais calma. Esperar não é fácil; aceitar não é fácil; superar não é fácil. Mas o que te espera no futuro vale à pena. Mais que isso, justifica toda a espera.

Amanhã será melhor!!

Amém.

..

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Memórias


Desde os tempos da escola me pergunto de onde viriam minha aptidão e meu gosto pelas letras. De esforço não vieram, porque nunca gastei muito tempo debruçada em livros de gramática. Passo a frase na cabeça e o que me soa melhor tomo como certo. Diria que em 98% das vezes realmente está certo. Um dom? Talvez.. Resultado de uma personalidade observadora? Talvez.. Fruto de experiências em outras vidas? Por que não?

Nunca pensei, entretanto, em genética. Algo que pudesse vir de gerações anteriores. Não pensei porque meus pais, avós e bisavós, apesar de inteligentes e educados, não são das letras. Ou são ativos e práticos demais para usar seu tempo com livros e jornais; ou só se interessam por temas muito específicos e param por aí. Tenho uma prima de segundo grau jornalista – muito boa, por sinal. Mas sempre tive a sensação de que, se para ela fosse genética, provavelmente viria do pai. 

Eis que recentemente descubro parentesco com Humberto de Campos* – jornalista e escritor -, por meio de minha trisavó Olívia Campos Gredilha, avó de meu avô paterno, Jorge. Ainda não posso afirmar 100% de certeza nessa conexão. O que tenho até agora são depoimentos: “Humberto de Campos é seu primo em um grau distante”, dizem. Curiosidade e uma pontinha de orgulho – características que me aproximam desse primo – me impulsionaram a ler em um dia sua biografia Memórias e Memórias Inacabadas.

A leitura me mostrou um sujeito controverso, ambicioso e corajoso; mostrou seus preconceitos e, abertamente, sua preferência pela família do pai, os Veras. Os Campos, nas palavras dele, nadavam na corrente gelada da má sorte. Não discordo totalmente da opinião dele sobre a família. São – e aí também me incluo – pessoas introspectivas e carentes de segurança, beirando muitas vezes à tristeza. Mas, ao contrário de Humberto, enxergo aí elementos indispensáveis a um bom escritor. Tristeza nem sempre atrapalha, meu caro primo.

Não sei se um dia chegarei à notoriedade que aquele escritor conquistou a duras penas por algum tempo. Mas sei que, se o fizer, será pelo prazer de mostrar quem realmente sou por baixo de tanta esquisitice, ou quem gostaria de ter sido; e não apenas para deixar uma obra para a posteridade. Não almejo ser lembrada por muitos... apenas pelos meus.

*Humberto de Campos (H. de C. Veras), jornalista, político, crítico, cronista, contista, poeta, biógrafo e memorialista, nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, MA, em 25 de outubro de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de dezembro de 1934. Eleito em 30 de outubro de 1919 para a Cadeira n. 20, sucedendo a Emílio de Menezes, foi recebido em 8 de maio de 1920, pelo acadêmico Luís Murat.
Foram seus pais Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. Dali, aos 17 anos, passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, a coletânea de versos intitulada Poeira, primeira série. Em 1912 transferiu-se para o Rio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sometimes it hurts instead

Ouvi dizer que amar dói. Ouvi dizer que amor até mata. É ser feliz angustiado, é buscar uma certeza que ninguém nunca terá; é desejar um ever after que não vai durar mais que momentos; é se agarrar a um porto que de seguro não terá nada, e fazer dele uma necessidade vital. É dramático porque é forte; e é forte porque é o que move as pessoas mais diferenciadas. Não é todo mundo que AMA, não senhor. E, ainda que doa, essa capacidade é uma dádiva.

Mulheres inteligentes, interessantes e surpreendentes, que possuem uma consistência bárbara, charme natural, mas que não são necessariamente fortes (ninguém pode ter tudo). Este tipo, que é capaz de dar o que for a quem ama, que pode tornar dias e noites inesquecíveis, que para bem ou para mal nunca permitirá o tédio, que tem feeling aguçado tanto quanto orgulho próprio; é este tipo de pessoa que sofre mais.

Mas sofrer é tão abstrato quanto amar, e tão proveitoso quanto também. Foi quase sempre dessa soma dilacerante que surgiram os melhores poemas, as melhores músicas, os melhores filmes. De pessoas com essa capacidade de sentimento nasceram os clássicos mais saborosos, que nos fazem suspirar e almejar algo mais do que somente alguém do lado.

Se relacionamento pra você é fácil, um caminho reto, então sai fora porque esse texto é só para quem já amou. Não é qualquer Zé Ruela limitado que pode ter opinião sobre isso (provavelmente nem quer). Perdeu seu tempo. Mas se, pelo contrário, você compartilha da ideia de que nada fácil demais tem graça e valoriza os esforços por um relacionamento completo, amplo, elevado; então não desista.

Alguém um dia vai perceber a sorte que teve por encontrar uma em um milhão, e ser feliz por te fazer feliz; vai rir das tuas tiradas sarcasticas e agradecer aos céus por ter encontrado uma peça das mais raras. Ele vai achar seu drama um charme e terá pena dos amigos porque nunca terão alguém como você.


"Don't forget me, I beg, I remember you said

Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead"

(Adele)



The man said "why do you think you're here?"

I said "I got no idea.

I'm gonna, I'm gonna lose my baby,

So I always keep a bottle near."

(Amy Winehouse)


**Duas mulheres lindas e talentosas que sofreram porque amaram.

Azar de quem as teve e perdeu.