Desde os tempos da escola me pergunto de onde viriam minha
aptidão e meu gosto pelas letras. De esforço não vieram, porque nunca gastei
muito tempo debruçada em livros de gramática. Passo a frase na cabeça e o que
me soa melhor tomo como certo. Diria que em 98% das vezes realmente está certo.
Um dom? Talvez.. Resultado de uma personalidade observadora? Talvez.. Fruto de
experiências em outras vidas? Por que não?
Nunca pensei, entretanto, em genética. Algo que pudesse vir
de gerações anteriores. Não pensei porque meus pais, avós e bisavós, apesar de
inteligentes e educados, não são das letras. Ou são ativos e práticos demais
para usar seu tempo com livros e jornais; ou só se interessam por temas muito
específicos e param por aí. Tenho uma prima de segundo grau jornalista – muito boa,
por sinal. Mas sempre tive a sensação de que, se para ela fosse genética,
provavelmente viria do pai.
Eis que recentemente descubro parentesco com Humberto de
Campos* – jornalista e escritor -, por meio de minha trisavó Olívia Campos
Gredilha, avó de meu avô paterno, Jorge. Ainda não posso afirmar 100% de
certeza nessa conexão. O que tenho até agora são depoimentos: “Humberto de
Campos é seu primo em um grau distante”, dizem. Curiosidade e uma pontinha de
orgulho – características que me aproximam desse primo – me impulsionaram a ler
em um dia sua biografia Memórias e Memórias Inacabadas.
A leitura me mostrou um sujeito controverso, ambicioso e
corajoso; mostrou seus preconceitos e, abertamente, sua preferência pela
família do pai, os Veras. Os Campos, nas palavras dele, nadavam na corrente gelada da má sorte. Não discordo totalmente da
opinião dele sobre a família. São – e aí também me incluo – pessoas introspectivas
e carentes de segurança, beirando muitas vezes à tristeza. Mas, ao contrário de
Humberto, enxergo aí elementos indispensáveis a um bom escritor. Tristeza nem
sempre atrapalha, meu caro primo.
Não sei se um dia chegarei à notoriedade que aquele
escritor conquistou a duras penas por algum tempo. Mas sei que, se o fizer,
será pelo prazer de mostrar quem realmente sou por baixo de tanta esquisitice,
ou quem gostaria de ter sido; e não apenas para deixar uma obra para a
posteridade. Não almejo ser lembrada por muitos... apenas pelos meus.
Foram seus pais Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. Dali, aos 17 anos, passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, a coletânea de versos intitulada Poeira, primeira série. Em 1912 transferiu-se para o Rio.