terça-feira, 7 de agosto de 2012

Memórias


Desde os tempos da escola me pergunto de onde viriam minha aptidão e meu gosto pelas letras. De esforço não vieram, porque nunca gastei muito tempo debruçada em livros de gramática. Passo a frase na cabeça e o que me soa melhor tomo como certo. Diria que em 98% das vezes realmente está certo. Um dom? Talvez.. Resultado de uma personalidade observadora? Talvez.. Fruto de experiências em outras vidas? Por que não?

Nunca pensei, entretanto, em genética. Algo que pudesse vir de gerações anteriores. Não pensei porque meus pais, avós e bisavós, apesar de inteligentes e educados, não são das letras. Ou são ativos e práticos demais para usar seu tempo com livros e jornais; ou só se interessam por temas muito específicos e param por aí. Tenho uma prima de segundo grau jornalista – muito boa, por sinal. Mas sempre tive a sensação de que, se para ela fosse genética, provavelmente viria do pai. 

Eis que recentemente descubro parentesco com Humberto de Campos* – jornalista e escritor -, por meio de minha trisavó Olívia Campos Gredilha, avó de meu avô paterno, Jorge. Ainda não posso afirmar 100% de certeza nessa conexão. O que tenho até agora são depoimentos: “Humberto de Campos é seu primo em um grau distante”, dizem. Curiosidade e uma pontinha de orgulho – características que me aproximam desse primo – me impulsionaram a ler em um dia sua biografia Memórias e Memórias Inacabadas.

A leitura me mostrou um sujeito controverso, ambicioso e corajoso; mostrou seus preconceitos e, abertamente, sua preferência pela família do pai, os Veras. Os Campos, nas palavras dele, nadavam na corrente gelada da má sorte. Não discordo totalmente da opinião dele sobre a família. São – e aí também me incluo – pessoas introspectivas e carentes de segurança, beirando muitas vezes à tristeza. Mas, ao contrário de Humberto, enxergo aí elementos indispensáveis a um bom escritor. Tristeza nem sempre atrapalha, meu caro primo.

Não sei se um dia chegarei à notoriedade que aquele escritor conquistou a duras penas por algum tempo. Mas sei que, se o fizer, será pelo prazer de mostrar quem realmente sou por baixo de tanta esquisitice, ou quem gostaria de ter sido; e não apenas para deixar uma obra para a posteridade. Não almejo ser lembrada por muitos... apenas pelos meus.

*Humberto de Campos (H. de C. Veras), jornalista, político, crítico, cronista, contista, poeta, biógrafo e memorialista, nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, MA, em 25 de outubro de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de dezembro de 1934. Eleito em 30 de outubro de 1919 para a Cadeira n. 20, sucedendo a Emílio de Menezes, foi recebido em 8 de maio de 1920, pelo acadêmico Luís Murat.
Foram seus pais Joaquim Gomes de Faria Veras, pequeno comerciante, e Ana de Campos Veras. Perdendo o pai aos seis anos, Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi levado para São Luís. Dali, aos 17 anos, passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e, pouco depois, na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, a coletânea de versos intitulada Poeira, primeira série. Em 1912 transferiu-se para o Rio.