terça-feira, 3 de novembro de 2009

O melhor amigo

Ele não era dos mais corajosos. Tinha medo de altura, de fogos, de jornal.. Quando pequeno adorava arrumar confusão com os maiores na rua; mas se ameaçado, corria. Na verdade nem gostava muito de sair, preferia ficar em casa, confortável, com sombra e água fresca. Era um garoto esperto.

Ele não precisava ser valente. Ele era todo o resto. Tudo o que alguém pode querer de um amigo.

Ele conhecia todos os meus amigos, todos os ex-namorados, todas as minhas fases, todos os meus segredos. Ele aturou meu mau-humor, minha adolescência, minhas maluquices, minhas danças forçadas (sim, ele dançava).

Ele gostava que coçasse atrás da orelha e de carinho na barriga; ele não comia qualquer comida, era exigente; desde pequeno só gostou de um boneco, um baby da família dinossauro (que aliás durou bastante). Ele era encantador.

No primeiro revéillon que passou em casa, passei com ele. Só eu e ele. Todos na rua vendo os fogos (lembra? ele tinha medo) e eu dizendo que estava tudo bem, que estávamos juntos. Virei aquele ano sem ver nada, nem ninguém, mas feliz. De alguma forma eu sabia que dali em diante ele faria muito mais por mim do que eu jamais poderia fazer por ele.

Para uma menina de nove anos, filha única, tímida e às vezes sensível demais, aquele amigo seria muito mais que companhia, seria uma fonte infinita de carinho e de sorrisos. Ele estava sempre feliz quando eu chegava e ficava triste quando eu saía. Os olhos diziam uma coisa e outra. Ele me ouvia e me acompanhava, me consolou todas as vezes que chorei. Meu amigo só faltava falar.

Ele tinha 16 anos. Muito, para muita gente. Para mim, não o bastante.

Meu amigo não está mais aqui.

E quem vai me consolar?

Mas sei que leva com ele a nossa história, assim como guardo para mim. E sei que não vou mais poder dizer que o amo todos os dias antes de trabalhar, mas vou dizer todas as vezes que lembrar dele.

Tofinho, eu te amo, preto!