domingo, 25 de abril de 2010

Flerte com a verdade

Todos deveriam esconder coisas; ter bom senso para dizer o que têm de relevante apenas. Isso permitiria mentir menos para os outros e para si mesmos. Parece contraditório? Eu explico. Haveria comportamento mais odioso do que disparar fatos e histórias mirabolantes (e montadas) a fim de conquistar o interesse alheio? Ou mesmo numa tentativa ilusória de fazer o outro sentir-se melhor após uma negativa?

Não sou regra, mas, neste caso, prefiro o silêncio (e não raramente sou criticada por isso). É dele que nascem as frases mais incisivas e extraordinárias, com muito mais chances de tornarem-se inesquecíveis. Ou, em segundo caso, uma verdade bem dita: não vou sair hoje porque não estou a fim. E ponto. Desculpinhas servem para que, se no fim dá tudo no mesmo?!

Discursos a esmo, ensaiados, óbvios, politicamente corretos, não me interessam. Me dê um olhar diferente, me dê um sorriso expressivo, ou me faça um comentário objetivo! É tão chato ler as pessoas de cara. Me dê mistério! Seja original a ponto de desfazer de mim, caso lhe ocorra. Quanto desdém já não terá sido capaz de apaixonar almas aparentemente incompatíveis?

Postura, originalidade, inteligência, opinião e desdém. Inicialmente, para conquistar atenção e respeito, não há fórmula mais eficaz. Para, além de manter atenção e respeito, alcançar o encantamento, adicione doses variadas e constantes de saracasmo e bom humor. Mas, mais do que exercitar a ironia, é preciso saber identificar a ironia. Isso, entretanto, é um talento. E quem não o tem dificilmente o terá.

O amor (e falo daquele que nunca há de enjoar ou cair num poço de tédio), por sua vez, será despertado naturalmente assim que o desdém for substituído por carinho; e todas as outras características forem reforçadas pelo tempo.

"Os homens ou são cheios de arrogância ou de estupidez. Se são amáveis, não têm opinião própria, são facilmente persuadidos", Elizabeth Bennet - Orgulho e Preconceito (Jane Austen)

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